A história da Microsoft e do Internet Explorer é recheada de decisões equivocadas e algumas táticas não muito corretas para com a concorrência - o Netscape que o diga. Por muito tempo a única opção para navegação na web, o navegador tirou partido dessa vantagem mercadológica e conseguiu, em dado momento, estar presente em mais de 90% dos computadores conectados à Internet.
Felizmente, quando o Firefox surgiu, trouxe consigo a competição. Dali a algum tempo, outros navegadores apareceram e reapareceram, e o reflexo disso, para o IE, foi a perda da hegemonia. O navegador da Microsoft ainda é o mais popular do planeta, mas perdeu bastante espaço desde 2004.
Nesse período, o que a empresa de Redmond fez foi "remendá-lo". As versões 7 e 8 trouxeram algumas melhorias internas e visuais, mas continuava arraigada a certos vícios do abominável IE6. Embora cumprisse seu propósito, que era permitir a navegação, faltava algo. Faltava.
Com o lançamento do Internet Explorer 9 Beta, a Microsoft volta ao jogo. Essa versão, lançada nesta quarta-feira, é a mais inovadora de toda a história do IE. Ela também é a melhor dentre todas elas, e consegue, sem muito esforço, dividir as atenções com seus competidores não pelo marketshare legado do passado obscuro e supostamente desleal da empresa, mas sim por mérito próprio. É um bom navegador, apto a brigar de igual para igual com Firefox, Chrome, Opera e Safari.
Interface minimalista
Após a instalação do IE9, e o chatíssimo, porém necessário, reinício do sistema, o usuário se depara com um útil aviso sobre complementos do IE que porventura estejam atrasando a inicialização do aplicativo. Com poucos cliques, dá para eliminar os mais lentos, fazendo com que o IE carregue mais rapidamente a partir de então.
Feita essa pequena configuração, eis que surge o IE9. O visual do programa agrada bastante e impressiona pelo minimalismo. Na parte superior, que em outras épocas ocupava um pedação vertical da tela, deixaram apenas uma linha, com os seguintes itens, nessa ordem: botões de navegação (voltar e avançar), barra única para endereços e buscas (One Box), abas e menu principal, composto por três ícones (página inicial, favoritos e opções). O menu clássico, completo, ainda está disponível, bastando pressionar a tecla Alt, como já ocorre no Windows Live Messenger.
Tal mudança visual faz do IE9 o navegador mais compacto do mercado, mais até que o que lançou essa moda, o Chrome. Mover tudo para uma linha só dá mais espaço para as páginas, e reforça a intenção da Microsoft com essa guinada em termos de interface de usuário: dar destaque aos sites. O navegador volta a ter seu papel, ou seja, a ser mero coadjuvante, um apoio, uma moldura para as verdadeiras estrelas. Seguir essa tendência e estendê-la é algo bastante positivo.
É certo que as novidades na parte de cima da janela não agradarão a todos. A One Box, a exemplo da omnibox, do Chrome, passa a integrar buscas e endereços propriamente ditos. O espaço para as abas fica limitado, embora a One Box, ajustável, possa oferecer mais folga para mais abas. Tais decisões não foram pensadas com o aspecto estético em mente. Elas derivam de estudos da Microsoft, que constataram o seguinte:
- As pessoas utilizavam tanto o campo de endereços, quanto o de pesquisas para realizar pesquisas em buscadores;
- O usuário médio mantém quatro abas abertas, e muito raramente tem mais que oito delas abertas simultaneamente.
Nesse cenário, a One Box e o espaço reduzido para abas funcionam bem. Ainda na interface, chama a atenção a sutileza das notificações do navegador. Foi a Microsoft quem implementou o antigo sistema da barrinha amarela no topo da página no IE6 do Windows XP SP2, avisando o usuário de eventos críticos e problemas de segurança, o que acabou se tornando um padrão da indústria ao ser adotado em massa pelos navegadores concorrentes. No IE9, esse mecanismo mudou para algo mais sutil, que não interrompe a navegação do usuário: notificações no rodapé das páginas. Visualmente, ficou bom. O único risco é o usuário achá-las muito sutis a ponto de não notá-las quando realmente será preciso.
Motor renovado
Se a interface é o que chama a atenção à primeira vista, é no motor de renderização que reside o grande destaque do IE9 Beta. Antes da sua liberação pública, a Microsoft havia liberado quatro Platforme Previews, versões sem interface do IE9, ressaltando as melhorias nos mecanismos que exibem as páginas, desde sempre o calcanhar de Aquiles do IE, e um fator que, com o advento e popularização de linguagens modernas como HTML5 e CSS3, ganha importância crucial na guerra dos navegadores.
O IE9 Beta ainda não passa no Acid3, teste sintético de compatibilidade com o CSS3, mas isso é o de menos. Importa dizer que está fluído, melhor do que nunca, mais respeitoso com os padrões da web. Outro efeito dessa adequação é na agilidade com que o navegador lida com páginas: está rápido. Não tão rápido quanto Chrome e, provavelmente, Opera, conforme testes de desempenho do Engadget demonstram, mas a diferença caiu de "inaceitável" para "irrelevante".
Para o usuário final, tais melhorias representam ganhos reais em páginas que se utilizam de muito JavaScript e já fazem uso de artifícios modernos oriundos do HTML5 e CSS3, como bordas arredondadas, texto com sombreamento, dentre outras coisas mais elaboradas que isso. O grande benefício, porém, é indireto. Hoje, o Internet Explorer 8 "segura" inovações. Não adianta elaborar uma interface matadora, usando o que há de mais moderno em programação Web, se 70% dos usuários (turma do IE) não podem tirar proveito dela. Com o IE9 se adequando a essa nova Web, as coisas tendem a melhorar.
A cartada final do IE9 no que toca a desempenho vem com a aceleração via placa de vídeo. Um dos componentes que evoluem com mais rapidez num computador, o processador de vídeo (ou GPU como também é conhecido), era severamente subutilizado quando o navegador entrava em ação na área de trabalho do usuário. Seu grande poder de processamento, já usado por outros programas da Microsoft, como o próprio Windows 7 e o Windows Media Player 12, ficava ocioso enquanto páginas com gráficos complexos faziam o processador central (CPU) trabalhar feito louco. Não mais.
A aceleração via placa de vídeo torna gráficos na Web fluídos na proporção do poder que ela tem a oferecer ao IE9. Na página de experimentos HTML5 que a Microsoft preparou para demonstrar o poder dessa tecnologia, é possível vê-la em ação. Comparar essa experiência com outros navegadores chega a ser injusto, tamanha a discrepância de desempenho.
Seus sites brilham
O minimalismo do IE9 Beta funciona como um catalisador para os sites. O objetivo da Microsoft é coloca-los no centro dos holofotes, local que lhes é devido. Mas não é só essa atitude que dá essa percepção. Outra grande novidade do IE9 é o tratamento de luxo dado a sites e serviços que rodam na Web quando trazidos para a área de trabalho.
Agora com abas "destacáveis" e movíveis entre janelas, o IE9 ficou mais esperto. As abas, por sua vez, podem ser fixadas na barra de tarefas do Windows, o que promove uma revolução. É verdade que Chrome e Firefox (via Prism) já permitem essa "desktoplização" de aplicativos Web, mas eles carecem de algo que o IE tem de sobra: integração com o sistema.
Ao mover uma aba para a barra de tarefas, o site converte-se num aplicativo. Ele continua abrindo o IE, mas a barra superior desse muda sensivelmente: os botões de navegação ganham a cor predominante do favicon, e esse aparece ao lado deles, servindo como botão de página inicial. O mais legal, entretanto, é que se o programador do site inserir alguns códigos extras nele, o site passa a fazer uso de elementos do próprio Windows.
Qual a diferença entre o Word e o Google Docs do ponto de vista técnico? Um roda parte local, parte na nuvem, e o outro, integralmente na nuvem. É preciso que haja uma distinção entre ambos na apresentação ao usuário final devido a essa diferença estrutural? Não. Fala-se tanto em computação na nuvem, em acabar com sistemas locais, mas essa estratégia, de unir local e online, soa muito promissora a, pelo menos, curto e médio prazo.
Não precisamos abrir mão de programas poderosos como Word, Sony Vegas, AutoCAD, para podermos usar aplicações Web, como apregoa a Google com seu Chrome OS. Unir o melhor dos dois mundos é o que o IE9 faz como ninguém. Já existe uma boa quantidade de sites e serviços com suporte a essa integração do IE9 com o Windows 7. No site promocional do navegador há um listão deles. No Neowin, dicas de como adaptar seu site ao IE9.
Conclusão
Desde que foi anunciado, na PDC do ano passado, criou-se muita expectativa em torno do IE9. Seria mais uma versão "remendada" do IE? Apenas um tapa buraco para mascarar as sérias deficiências do navegador? Felizmente, as respostas são "não" e "não". Com uma base sólida e muita velocidade, o IE9 volta ao jogo, não como coadjuvante, não como "melhor ferramenta para baixar o Firefox", mas sim como um navegador que se leva a sério e que ofere aos usuários o que eles desejam. O Internet Explorer 9 é um ótimo navegador.
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